Das Copas do Mundo que assisti, acho que nunca uma bola foi tão comentada como a Jabulani. Após o baixo número de gols da fase classificatória comparada com as outras Copas e das constantes reclamações dos jogadores, a mídia botou a Jabulani na boca do povo. Diante disto, resolvi discutir o que faz da Jabulani uma bola diferente.
A bola Jabulani foi projetada para minimizar ao máximo a redução da sua velocidade após ser chutada. Comparando a Jabulani com a Teamgeist, bola usada na Copa de 2006 na Alemanha, é fácil notar que a Jabulani gera um menor atrito com o ar. Segundo a Adidas, fabricante das bolas, a Teamgeist possui uma camada externa formados por 14 gomos unidos por uma costura interna, enquanto as Jabulanis são formadas por apenas 8 gomos unidos termicamente sem costuras.
Bola Teamgeist e seus vários gomos.
Vídeo que mostra o processo de produção de uma Jabulani.
Após a montagem, a Jabulani recebe uma pintura granulada onde muitos poderiam perguntar: a rugosidade causada por essa pintura da superfície da Jabulani não aumenta o atrito com o ar, reduzindo a velocidade da bola?
A resposta a essa pergunta é não. Apesar de sabermos das aulas de mecânica básica que a rugosidade aumenta o atrito, não estamos falando de atrito entre superfícies, mas sim do atrito com o ar. Neste caso a rugosidade causa um efeito contrário, ou seja, reduz o atrito, pois os grânulos utilizados na pintura causam uma rugosidade aerodinâmica, tecnologia a muito tempo empregada na fabricação das bolas de golfe.
Conforme discutido, a bola Jabulani é mais rápida que as outras, mas vamos a principal reclamação dos jogadores.
Em entrevista coletiva o jogador brasileiro Luís Fabiano disse:
“Essa bola é sobrenatural. A trajetória que ela faz é estranha, ela sai de você, parece que não gosta que alguém chute. Parece que tem alguém guiando, porque quando você vai chutar ou cabecear, ela muda a trajetória”.
Outros jogadores também reclamaram da mudança de trajetória feita pela bola. O que será que causa essa mudança na trajetória?
Segundo a primeira lei de Newton, todo corpo tende a continuar em movimento em linha reta mantendo sua velocidade até sofrer a ação de uma força. Diante disto a bola jamais vai manter seu movimento, pois várias são as forças experimentadas pela mesma no decorrer da sua trajetória. Por exemplo, temos o atrito com o ar, o peso da bola e alguma outra força responsável por mudar a direção da bola.
Essa força responsável pela mudança da direção da velocidade da bola foi descrita pelo alemão Heinrich Gustav Magnus (1802-1870). Segundo ele, essa força é causada pelo efeito que leva seu nome (Efeito Magnus). Este efeito afirma que ao cruzar o ar a bola sofre uma diferença de pressão que produz uma força dada por:
Essa força é perpendicular a velocidade linear v e angular ω (velocidade de rotação) da bola. A força Magnus por ser perpendicular a trajetória atua de forma semelhante a uma força centrípeta modificando a direção do vetor velocidade da Jabulani.
Como a Jabulani é uma bola mais rápida (maior valor de v), ao cruzar o ar a bola fica mais susceptível ao efeito Magnus. O que causa a mudança de trajetória da Jabulani.
Para finalizar, vale lembrar que o Efeito Magnus não ocorre somente com bolas Jabulani, e nem sempre atua como vilão. Em 1997 no torneio preparatório para o Copa da França de 1998, o jogador brasileiro Robertos Carlos, após aplicar um chute com efeito que aumentou a velocidade angular da bola (ω), conseguiu marcar um belíssimo Gol com a ajuda do efeito Magnus.
Confira o vídeo feito pelo Discovery Channel que mostra o Gol de Roberto Carlos.













